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domingo, 9 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez




Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1 de Março de 2008. Saltinho, na Estrada Bissau - Mansoa - Bambadinca-Saltinho - Quebo - Gandembel - Guileje. Paragem no Saltinho, no Clube de Caça, para tomar um segundo pequeno-almoço reforçado. Que a viagem é longa até ao Guileje (chegada prevista às 12h30), no âmbito do programa social do Simpósio Internacional Guiledje Na Rota da Independência da Guiné-Bissau (1) Enquanto se come, pode-se ouvir em silêncio, na margem direita do Rio Corubal, a água que corre nos rápidos do Saltinho. Na volta, quero ver os rápidos de Cusselinta.



Guiné-Bissau > Bissau > 1 de Março de 2008 > Concentração da caravana automóvel por volta das 7h00. A caminho do sul do país. Esperamos chegar a Guileje daqui por 5 horas e meia, com quatro paragens (Saltinho, ponte Balana, Gandembel, Corredor de Guileje).

O Rio Coruabl no Saltinho continua a ser, quarenta anos depois, um deslumbramento. Mesmo na época seca. Vim aqui apenas um ou duas meses, integrado em colunas logísticas que partiam de Bambadinca (Sector L1 / Zona Leste) e traziam os abastecimentos indispensáveis aos nossas tropas e populações estacionadas em Mansambo, Xitole e Saltinho. Em geral, íamos até ao Xitole que depois fazioa chegar os respectivos abastecimentos aos seus vizinhos do Saltinho (que pertenciam já a outro sector, o L5, sediado em Galomaro.


Mercado local, improvisado, antes da Ponte do Saltinho. As populações locais são céleres a reagir às notícias de chegada de turitas... Notícias que agoram chegam num instante, através do telemóvel bem como das rádios e televisões comunitárias....



Paragem no Saltinho às 9h30 para um segundo pequeno reforçado...





O Paulo Santiago, que esteve aqui a comandar o Pel Caç Nat 53, conversa com um diplomata português, o nº 2 da Embaixada de Portugal em Bissau.... Em segundo plano, o o Julião Soares e o Pepito.

Os três Gringos de Guileje nunca tinham andado por aqui, segundo creio...

Estamos no chão fula... Vê-se elas tabancas e as cabeças de gado que agora pastam nas bolanhas... Não há fula que não tenha uma história de colaboração com as autoridades coloniais portuguesas: como polícias administrativos, como milícias, como militares...

Uma imagem pouco usual no meu tempo: uma mulher com dois gémeos... Não sei qual é hoje a prevalência do infanticídio...


A Francisca Quessangue, esposa do Roberto, presidente da Assembleia Geral da AD, é uma doçura de pessoa. E, no entanto, tinha todas as razões para ter ódio no seu coração: o pai foi morto, com três tiros, friamente, por tropas africanas, por se recusar a denunciar os camaradas da guerrilha do PAIGC... Uma tia dela que estava grávida e que assistiu, aterrorizada, a esta cena, escondida por detrás de uma árvore, teve um aborto espontâneo. O pai da Francisca era papel, da região de Bissau. Viveu no mato, onde ela cresceu. Tinha responsabiliddaes políticas, não era combatente. A Francisca estudou enfermagem na ex-União Soviética. Estava num hospital de rectaguarda, na fronteira, aquando do ataque a Guileje. Hoje é enfermeira no Hospital Regional do Gabu. É uma das oradoras do Simpósio. Vai fazer uma comunicação sobre "os aspectos sanitário-logísticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje", dia 6 de Março. Ostenta uma T-shirt com uma campanha da Unicef Semana Nacional de Amamentação. Hoje na Guiné-Bissau as jovens mães já não querem dar de mamar aos seus filhos, por razões estéticas...



À entrada do Clube de Caça: A Isabel e a Alice... Em segundo plano, uma jovem cooperante portuguesa, licenciada em Relações Internacionais, conversa com um africano... Adora a Guiné e o seu povo. É natural do concelho de Seixal. Não fixei o seu nome.


O Patrick Chabal foi dar uma volta para ver mais de perto o Corubal, o único verdadeiro rio da Guiné, como defendia o seu biografado, o Amílcar Cabral.

O Coronel Art Ref Nuno Rubim conversa com um antigo milícia ou militar de uma companhia de caçadores, africana... Se bem me lembro, era no Quebo. Talvez a CCAÇ 18.

O António Camilo, algarvio de Lagoa, é com o o Xico Allen um dos campeões das viagens à Guiné. Gosta tanto deste país que cá já construiu uma morança, no Clube de Caça do Saltinho, mesmo em cima do Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa. Com o seu amigo Carlos Silva (em primeiro plano).

O Pepito está atento à caravana que vai retomar a marcha... Por detrás da realização do Simpósio Internacional de Guileje há uma logística impressionante, de que os participantes a pouco e pouco se vão dando conta...



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > Memorial da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) (à direita, numa foto do Paulo Santiago) (2); o mesmo memorial, à esquerda, muito mais degradado, em 1 de Março de 2008...

Fotos, vídeo, legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

1. No percurso entre Bissau e Saltinho, não tomei grandes notas. Nem tirei fiotos. A caravana seguia a boa velocidade. Fui em estrada alcatroada, ao longo do Geba, por sítios que não conhecia, com belíssimas bolanhas, sobretudo na região de Mansoa. No meu tempo, esta estrada, a norte do Geba, estava interdita. Para a Zona Leste ia-se de barco, até ao Xime, até Bambadinca, até mesmo a Bafatá...

Noto que as estradas modernas, como em toda a parte, atraiem as populações... Há mais tabancas, com maior risco de acidentes, à beira do caminho. Uma das nossas viaturas passou por cima de um cabrito. Ninguém porém parou. Há um membro do governo na caravana e leva escolta policial. Há também uma deputada, antiga combatente da liberdade da pátria...


Passo pela bolanha de Finete, agora com direito a tabuleta. Passo em Mato Cão e o Rio Geba Estreito ali tão perto... Imagino um comboio de barcos da Casa Gouveia a aparecer na curva do rio... E nós ou o PAIGC, emboscados. Passo ao largo de Bambadinca, sem aparente emoção. Mas tenho um pensamento positivo ao lembrar os velhos camaradas que andaram por aqui comigo...

Cortamos para o sul, mais à frente, perto de Santa Helena, se não me engano...

Não dou conta de passar por Mansambo: do Xitole, retive apenas a fachada de uma mesquita que não existia no meu tempo... Entrevejo as ruínas do Xitole... Passo pelo Rio (seco) de Jagarajá e por Cambesse onde, em 15 de Maio de 1974, teriam morrido os últimos  portugueses em combate, segundo o José Zeferino (3)... A estrada antiga passava ao lado...

2. A viagem vale pelo Saltinho, que revisito, o Rio Corubal, as lavadeiras do Corubal... Mas já não há a tensão dramática que percorria a fiada de palmeirais ao longo do Rio, no tempo da guerra... 

Há também maior desflorestação nesta zona. Os cajueiros são uma praga, na Guiné-Bissau. As bolanhas tendem a ser abandonadas ou a transformar-se em campos de cajueiros... Uma armadilha mortal para os guineenses, para a sua economia, para o seu futuro... O arroz continua a ser a base da alimentação do guineense, de Bissau a Bafatá... Arroz que é importado, em grande parte.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes anteriores:
8 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2618: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (1): Regresso a Bissau, quatro décadas depois...

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2620: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (2): O Hino de Gandembel, recriado pelos Furkuntunda

(2) Vd. poste de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2588: Historiografia de uma guerra (3): a última emboscada do PAIGC, na ponte do Rio Jagarajá, em 15 de Maio de 1974 (José Zeferino)